Democracia ou mediocracia?



Quando Platão referiu-se à democracia afirmando que, “é o pior dos bons governos, mas é o melhor entre os maus”. Sem querer definiu a mediocracia. Transcorreram séculos mas a frase conserva sua verdade.  Na primeira década do segundo milênio a decadência moral dos nossos governantes acentuou-se. Em cada comarca um grupo de oportunistas detém as engrenagens do mecanismo oficial, excluindo do seu seio todos os que se negam a tornar-se cúmplices deste procedimento. São quadrilhas que se intitulam partidos. Tentam disfarçar com idéias seu monopólio do Estado. São bandoleiros que procuram a encruzilhada mais impune para espoliar a sociedade.
Em todos os tempos e em todos os regimes houve políticos desonestos mas encontram melhor clima quando o terreno é fértil em ignorância política. Onde todos podem falar, calam-se os ilustrados. Os enriquecidos preferem escutar os embaixadores mais vís. Quando o ignorante se acha igualado ao estudioso, o safado ao apóstolo, o tagarela ao eloqüente, o mentiroso ao fiel e o mula ao digno, a escala do mérito desaparece num ignominioso nivelamento de velhacarias. Este achatamento moral é mais grave do que a aclimatação da tirania. Ninguém pode voar onde todos se arrastam. Concordam em chamar a hipocrisia de civilidade, a cumplicidade de tolerância. A mentira proporciona estas denominações equívocas. Estes mentirosos são inimigos da Pátria desonrando seus filhos e corroendo a dignidade comum.
Sempre existiram medíocres. São perenes. O que varia é o seu prestígio, sua influência. Nas épocas de exaltação renovadora mostram-se humildes, são tolerados, ninguém os nota e não ousam imiscuir-se em nada. Quando os ideais amornam e se substitui o qualitativo pelo quantitativo começa-se a contar com eles. Percebem-se então, seu numero. Organizam-se em grupos, reúnem-se em partidos e cresce sua influência na justa medida em que o clima se torna temperado. O sábio é igualado ao analfabeto, o rebelde ao lacaio, o poeta aos prestamistas e a mediocracia  converte-se em sistema. Os rudes são exaltados pois não florescem gênios nem surgem astros. A sociedade não os necessita; basta sua corte de funcionários. Florescem legisladores, pululam ativistas e contam-se os esmolés afiliados  por legiões. Multiplicam-se as leis sem reforçar, por isso, sua eficácia. O nível dos governantes baixa até o zero. A mediocracia é uma confabulação de zeros contra a unidade. Cem políticos juntos não valem um estadista genial. Somem dez zeros, cem, mil, todos os zeros da matemática e não terão nenhuma quantidade, nem sequer negativa.
Os políticos que hoje assaltam o País estão marcando um zero absoluto no termômetro da história, mas conservando-se limpos da infâmia e da virtude. Nesta época de lenocínio é fácil exercer a autoridade. As côrtes povoam-se de servís, de retóricos que tagarelam “pane lucrando”, de aspirantes a algum cargo, puxa-sacos e pés-de-chinelo em cuja consciência está pendurado o alvará ignominioso.
A mediocracia se apóia no apetite dos que anseiam viver nela e no medo dos que temem perder suas regalias. A indignidade civil é a lei nesses climas e todo homem abre mão de sua integridade moral quando se filia à mediocracia.

Comentários

Há tempos li algum exemplar de autoria de José Ingenieros que afirmava refletir nos governantes o colápso moral de uma sociedade. Não podemos culpar os partidos políticos pela marginalização do sistema. As aves de rapina não matam a carcaça que devoram. Fui buscar no "O Homem medíocre", inspiração para o texto.
Eu sou um democrata mas reconheço que a ignorância é um fator de enfraquecimento do regime. No Brasil, as agremiações partidárias não estão sob controle da base dos filiados. São os caciquem que mandam com as executivas estaduais intervendo em diretórios municipais e cada executiva nacional influenciando as decisões das estaduais. Lamentavelmente não há democracia satisfatória nos partidos. Só que essa mudança não se opera por leis mas sim por mudança estatutária e atitudes. É o membro de um partido quem precisa conscientemente lutar por regras novas e transparentes ou então criar uma nova instituição com outros princípios e normas.
Democracia não é sinônimo de desonestidade. O povo desonesto elege seus representantes na essência de sua personalidade. O caráter dos eleitos não é uma exceção de regra.O governo de "merda" que estamos vivendo foi eleito através da mediocridade de seu povinho igual. Fruto de uma miscigenação que não deu certo.
Não vejo qualquer ligação do que colocou com a miscigenação já que as etnias humanas não têm nada a ver com o mau caratismo das pessoas. No entanto, há de fato uma afinidade cultural entre o eleitor e seu candidato ainda que este apenas represente para agradar a coletividade e conseguir votos. Entretanto, vejo a nossa deficiência educacional como sendo a principal causa para esse comportamento reprovável.
Então, ao que você atribui nosso mau caratismo, nossa indisposição para o trabalho honesto e nossa falta de inteligência produtiva?. Na essência somos um povo burro, preguiçoso e desonesto. Quer exemplos?

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