É... E Lilith?


Os textos  bíblicos são antigos, passaram por diversas traduções e não são livros de história, por isso são divergentes. Em Gên 1:27 Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança usando o pó da terra como elemento no sexto dia. Não necessita ler muito para no capítulo 2:21, após o descanso, ele criar Eva usando uma costela de Adão que disse no versículo 23; “Esta é agora, osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Não deixando margem para outra interpretação que não seja a criação de outra mulher distinta. Segundo o Talmud rabínico, Lilith foi criada a partir do pó, junto a Adão, portanto antes de Eva. Entretanto negou-se a deitar-se sob Adão, na hora do sexo, por não se sentir inferior a ele e abandonou o Éden. Lilith rebelou-se contra a superioridade masculina e se tornou um problema para religiões patriarcais como catolicismo e judaísmo. Há um motivo histórico para o desaparecimento de Lilith do Gênesis. Durante o exílio Babilônico no século 7 e 6 aC, Os patriarcas da tradição judaico-cristã passaram a cultuá-la como Deusa da fertilidade. Por ser adorada por seus captores babilônicos, os hebreus retiraram Lilith  do mito da criação. Na época de Gilgamesh, poema mesopotâmico de 2.100 aC, Lilith é mencionada como a serpente satânica que seduziu Eva. Portanto Lilith já era conhecida muito antes de compilarem o Gênesis, o que reforça a teoria de que foi apagada da história. Nos últimos séculos a imagem de Lilith começou a passar por uma notável transformação em certos círculos intelectuais quando alguns românticos passaram a se ater mais na imagem sensual e sedutora. Seus atributos são considerados impossíveis de serem obtidos, um contraste radical à sua tradicional imagem diabólica.
Entende a bíblia aquele que toma autoridade como verdade.

Comentários

Boa noite, Altamirando.

Vejo que escolheu um tema bem interessante.

Hoje, por não termos suficientes fontes sobre o moto de Lilith, talvez nos reste apenas recorrer à psicanálise onde geralmente ela é associada com a figura da amante. Da mulher não submissa ao macho mas que o satisfaz em muitas das suas fantasias e lhe proporciona momentos mais prazerosos que a comportada esposa.

Mas o seu post vai de encontro ao recente artigo do teólogo Leonardo Boff cujo título é "Como o patriarcado desmantelou o matriarcado, diabolizando a mulher", o qual compartilhei ontem no blogue da C.P.F.G. Só que ali ele segue mais a teologia tradicional.

Acredito que Lilith nunca deve ter constadona Torá, mas, sim, numa tradição anterior ao Livro Sagrado e que os antigos sacerdotes pré-exílicos devem ter rejeitado. Porém, numa analogia com os mitos, um dos autores de Isaías a menciona no verso 14 do capítulo 34 (se bem que várias traduções a omitem).

Embora em nossa cultura Lilith seja associada com à ideia de uma amante, vale lembrar que, no Islã, ela é referida como sendo realmente a primeira mulher de Adão. E numa passagem, acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido (Patai 81: 455f).
Na certa existiu alguma mulher na compilação do velho testamento que refutou o regime patriarcado imposto na criação. Fez de Lilith uma protestante, o que indignou aos sacerdotes excluindo-a. Lilith tinha a mesma importância de Adão e não foi criada para ser seu depósito de esperma. Eva foi criada sob seu julgo e fez papel de amante. Só tinha dois direitos; fazer e ficar calado. Se Lilith tivesse existido no Éden, hoje estaríamos perdidos. Ainda bem que é só uma lenda...
Levi B. Santos disse…
A Lenda, Miranda, dá mais pano para as mangas. Conta-se que Lilith teve um caso com Lúcifer.

Aliás, “Lillith – O Mito” já foi tema de uma postagem na “Confraria Logosemythos. blogspot.com.br", em dezembro de 2012. Na ocasião, rendeu 77 longos comentários.
Na visão de Jung – célebre estudioso dos mitos de todas as culturas -, Lillith representa dois arquétipos totalmente opostos da psique feminina. Um lado simboliza a submissão, a dependência, a fragilidade constitucional; e o lado “independente”, representado pelos afetos e instintos arrasadoramente superiores ao do homem. A falha ou roubo de um pedaço importante do Mito da Criação(ou História dos desejos e contra-desejos humanos) no Gêneses, deu no que deu.

Foi devido ao medo dessa figura arquetípica aflorar no panteão Hebreu, que a jogaram no “mar do esquecimento” (essa figura de um sombrio oceano – na psicanálise, simboliza o nosso inconsciente – recanto da psique onde estão escondidos crimes não ditos e prazeres inconfessáveis – os famosos “recalques”)

Segundo a psicanálise, nada se perde da psiqué humana, em matéria de arquétipos. De vez em quando um arquivo que se encontrava travado no inconsciente individual, repentinamente aparece para dar o ar de sua graça. (rsrs)

O rabino, Nilton Bonder, líder da Congregação Judaica do Brasil, autor da fenomenal — “A Alma Imoral” —, livro que deu origem a peça teatral (do mesmo nome) que em janeiro desse ano, batendo todos os recordes, completou 12 anos em cartaz em São Paulo, traz uma confissão irretocável. Disse o autor: “Toda moral, toda tradição, toda religião e toda a lei são produtos do corpo moral, de um animal moral. E toda a sociedade está voltada para 'vestir' a nudez do ser humano. O corpo moral cria um mundo de roupas para vestir o nu. Mas o nu continua visível, mais do que quando era coberto por qualquer roupagem. Os maiores pecados para a moral não são as tentações do corpo, mas os pecados da alma”
A figura de Lillith, simboliza mais do que tudo, o delírio de desejos reprimidos na consciência do povo Hebreu. Uma repercussão do Mito de Lillith, entre nós, está retratada na letra da canção que homenageia a Maldita/Bendita Geni da canção de Chico Buarque, que replico abaixo:

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada

Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato

E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim

A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"

Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Levi B. Santos disse…
O espaço de cima não deu. Segue abaixo o resto de "Geni e o Zepelin" de Chico

Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro

Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos

E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco

Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado

Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Eu não sabia que "Geni e o Zepelin" era uma alusão a Lilith. Quanto ao caso com Lucifer há controvérsias. Alguém alude Lilith como precursora do lesbianismo. Uma lenda escrita mil anos depois de imaginada pode ser revisada quantas vezes necessária.

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