Pecado Original

  • O pecado original é uma doutrina que pretende explicar o origem da imperfeição humana e se apoia em várias passagens das Sagradas escrituras. Segundo a doutrina, Eva e Adão, foram advertidos por Deus que se comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente, morreriam. No entanto, instigados pela serpente ambos comeram o fruto proibido, tendo Eva oferecido o fruto a Adão que aceitou. Ambos continuaram vivos mas foram expulsos do Jardim do Éden. Configurando uma desobediência. Existem polêmicas quanto ao significado real desta narrativa, em que constituiria tal pecado. Algumas narrativas cristãs recentes chegam mesmo a negar sua existência. A morte de Cristo é suposta para salvar os seres humanos deste "pecado de origem" que seria congênito e hereditário mas desnecessária. A Questão do pecado original aparece no cristianismo principalmente com Agostinho de Hipona, O Santo, que associa o pecado à culpa herdada por todo o gênero humano depois de Adão e Eva sucumbirem à tentação do Diabo. Para Agostinho o pecado original tem caráter congênito e hereditário.
  • Uma nova revelação foi concebida por um evangelista americano chamado Wiliam Marrion Branham (1909-1965). Esta revelação baseada em tradições apócrifas judáicas e gnósticas afirma que o pecado original teria sua origem no fato de Eva ter copulado com a serpente(Satã), a qual introduzira nas gerações humanas, sua semente, dando origem a posteridade de Caim. Também na perspectiva psicanalística foi sugerido que o pecado mencionado no Gênesis teria sido o ato sexual. Esta explicação não encontra raízes nas tradições judaicas pré-cristãs em que a união carnal entre o homem e a mulher fora estabelecida por Deus. Entretanto, se o pecado original fosse o ato sexual, Deus mesmo teria induzido o pecado quando ordenou crescei e multiplicai.
  • A origem do bem e do mal está ligado à nossa evolução. Até atingir a fase da civilização, o homem vivia no estado de natureza em oposição ao estado de cultura, explicação esta totalmente compativel com o evolucionismo Darwinista. O comer do fruto da árvore do bem e do mal seria o divisor de águas, a ruptura da comunhão entre o homem e a natureza. A partir de então, o homem passou a reconhecer-se separado e independente da natureza, adquirindo consciência de sua morte e finitude, adotando valores e crenças e objetivos independentes da natureza. Deu-se a traumática transição entre o animal e o hominal como definia Teilhard de Chardin. Como consequência o homem  sentiu vergonha de sua nudez e passou a trabalhar para acumular. O pecado de Adão não teve nenhuma influência sobre as almas de seus descendentes além de, através de seu exemplo pecaminoso encorajar outras pessoas a também pecar. De acordo a esta opinião o homem tem o poder de parar de pecar se assim quisesse.
  • Os arminianos acreditam que o pecado de Adão resultou no resto da humanidade herdando uma tendência a pecar chamada de natureza pecaminosa. Esta natureza pecaminosa nos leva a pecar da mesma forma que a natureza leva um gato a miar, ocorre naturalmente.  Então, o pecado original não vem do sexo. Se vem da desobediência ela não é congênita nem hereditária. Se a árvore do conhecimento fosse uma árvore de verdade ela não poderia ter sido uma macieira pois as frutas autoctones de outras regiões só foram introduzidas na Palestina a partir do século xix com a formação dos kibbutz e moshan. Uma verdadeira enganação. Mas a fruta que seduziu Eva poderia ter sido um abacaxi, que até hoje não foi descascado.

Comentários

Levi B. Santos disse…
Já que você citou Santo Agostinho (o autor que concebeu a história do “pecado original”, em seu antológico livro “Confissões”), trago-lhe uma boa notícia: agora em maio, a “Editora Companhia das Letras” vai lançar no Brasil “Ascensão e Queda de Adão e Eva” de Sthephen Greenblat. Na revista PIAUÍ nº 138, de março de 2018, há uma versão condensada de dois capítulos do livro ainda a ser lançado nos próximos dias.

Pelo que li, na versão condensada publicada na Revista Piauí 138, acho que esse livro vai trazer bastantes subsídios para quem deseja saber mais sobre Agostinho, apelidado de “O Inventor do Sexo”. No fundo, no fundo, a própria história de Agostinho, tem tudo a ver com o Mito de Adão e Eva. Foi baseado em suas próprias “devassidões”, que ele fez a seguinte conclusão em seu livro “A Cidade de Deus” - (versão condensada do livro - pág 94 – da obra a ser lançada em maio, que aqui, replico, com os devidos créditos:

“A queda de Adão não se deve a ter sido enganado pela serpente. Adão escolheu pecar e, ao fazê-lo perdeu o Paraíso, porque não podia suportar viver separado de sua única companheira. Agostinho, até onde foi capaz, nos limites de sua condição decaída, desfez a escolha fatal de Adão. Com a ajuda de sua mãe (Mônica) santificada, separou-se de sua companheira e tentou escapar ao ardor da excitação. Moldou-se, até onde levou sua extraordinária capacidade , com base no modelo de Adão reconduzido ao Éden, um modelo que passou anos se empenhando em entender e explicar. É verdade que ainda lhe ocorriam aqueles sonhos involuntários, aqueles impulsos indesejados (Freud explica – Grifo meu – rss). Mas o que ele aprendeu sobre Adão e Eva em seu estado de inocência lhe assegurava que um dia, com a ajuda de Cristo, ele havia de chegar a um controle completo de seu próprio corpo. E conquistar a liberdade”.

Esse estado de domínio completo do corpo, que Agostinho tanto almejava, talvez, seja aquilo que em psicanálise, hoje, se denomina - “Sublimação dos Instintos”. Já ouvi alguns velhos dizerem que, acima dos oitenta, essa sublimação ocorre naturalmente (rsrs).
A história de Adão e Eva não é apenas uma mentira ridícula. É a justificativa de alguns dos aspectos mais odiosos das ações e crenças humanas. A proibição bíblica é estranhíssima. Não é fácil conceber que algum dia tenha existido uma árvore que fosse capaz de restituir a vida ou ensinamentos para o bem ou para o mal. Porem, não é este o principal problema. Por que Deus não deseja que o homem conheça as diferenças entre o bem o mal?.. Como poderia aquelas criaturas inocentes obedecerem sem saber do que se tratava?... E o que a ameaça de morte significava para pessoas que não nasceram? Não seria melhor para Deus ordenar ao casal que comessem o quanto pudesse do fruto? Por que a religião havia de glorificar uma história que festeja a ignorância?
Deus agiu, no Jardim do Eden, como um trapaceiro jogando com cartas marcadas. E qual foi o pecado de Adão?.. A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa de vista. Tomou-lhe do fruto e comeu...Deu-o também ao seu marido que com ela estava e ele também comeu. Este foi o pecado de Adão. Muito original.
Nesta cena mítica está codificada uma verdade perversa... Em algum momento, num passado imensamente distante, foi um sopro que deu a vida a Adão. O sopro de um contador de histórias.

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